quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Madame Bovary: Gustave Flaubert




«Foi debaixo do telheiro onde se guardavam as carroças que puseram a mesa. Nela havia quatro lombos de vaca, seis frangos de fricassé, vitela estufada, três pernas de carneiro e, ao centro, um bonito leitão assado, rodeado por quatro grandes chouriços com azedas. Aos cantos erguiam-se as garrafas de aguardente. A sidra doce engarrafada fazia sair a sua espuma espessa em torno das rolhas e todos os copos tinham sido previamente cheios de vinho até às bordas. Grandes taças de leite-creme, que estremeciam ao mínimo toque na mesa, apresentavam, na sua superfície lisa, o monograma dos noivos, desenhado em arabescos de missanga de açúcar. Tinha-se mandado vir um pasteleiro de Yvetot para fazer as tortas e os nogados. Por ser a sua estreia na região, apurara-se no trabalho; e ele próprio trouxe para a mesa um bolo armado que provocou estrondosos aplausos. A base, em primeiro lugar, era composta por um quadrado de cartão azul, representando um templo com pórticos, colunas e estatuetas em gesso em toda a volta, dentro de nichos constelados de estrelas de papel dourado; a seguir vinha no segundo andar, uma torre de pão-de-ló, rodeada de pequenas fortificações de angélica, amêndoas, passas de uva, gomos de laranja; e, por fim, sobre a plataforma superior, que representava um prado verde onde se viam rochas com lagos de geleia e barcos feitos com cascas de avelãs, havia um pequeno Cupido sentado num baloiço de chocolate, cujos postes terminavam, no cimo, à maneira de esferas, em dois botões de rosa naturais.
Comeu-se até à noite. Quando se cansavam demasiado de estar sentados, iam passear pelos pátios ou jogar uma partida de malha no celeiro; depois voltavam à mesa. Para o fim, alguns adormeceram ali mesmo e ressonavam. Mas, quando chegou o café, todos se reanimaram; (…)»

Nenhum comentário:

Postar um comentário